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Atrevi-me a escrever

Penso, logo escrevo. Porque pouco me atrevo a dizer.

No dia que virá

Um dia vais encontrar a ponta que desprendeu…
O nó que desapertou,
A carne que foi tirada,
A alma que foi roubada…

Um dia chegarão…
Os braços, fracos mas apertados,
Os rostos, pálidos mas sorridentes,
Os olhos, molhados mas cheios de luz…

Um dia virão os momentos…
Em que os pés descalços encontrarão a praia,
Os olhos, fechados, encontrarão o Sol,
E o coração, mais leve, reencontrará a sua Casa.

(Ana, 07 de Abril de 2020)

Aos aplausos das janelas...juntemos acção!

Em dias conturbados, multiplicam-se as manifestações de gratidão àqueles que cuidam de nós...Mas será de aplausos e manifestações populares, facilmente "partilháveis" nas redes sociais, que vivem os nossos profissionais de saúde?

Vejamos: relatos de falta de material de protecção individual, relatos de falta de material necessário para tratar convenientemente os doentes...Aos médicos e enfermeiros é-lhes pedido que usem uma máscara por dia (12 horas a bulir com um equipamento que deveria ser utilizado por um quarto deste tempo...), que improvisem, que inventem.

Começaram hoje a testar utentes de lares em massa, porque é uma população de alto risco, porque os números de infectados nestes meios têm sido alarmantes nos últimos dias...E já agora, vão aproveitar e testar igualmente os profissionais, os cuidadores dos mesmos. Porque é necessário. Porque estão em risco.

Embora isto seja um passo extremamente importante e necessário (repito: importante e necessário), não consigo evitar em ver este acto como um golpe publicitário para calar as perguntas de quem viu na comunicação social a gestão desastrosa destes casos nos lares portugueses.

E então, e os nossos profissionais de saúde? Onde estão os testes para os médicos, enfermeiros e auxiliares que lidam com doentes e colegas infectados? Já que não há cá quarentena para eles...onde estão os supostos testes? Não devem só testar alguns, senhores! Todos, testem todos. Eles estão em perigo e precisamos muito deles que cuidam de nós. Vejam por favor o que acontece se um profissional de saúde assintomático mas infectado lida com com centenas de pessoas, muitas delas em estado clínico frágil...

Vieram os aplausos, venham agora os cuidados, a protecção, a defesa, que em mais nada podemos ajudar...

Tempo indeterminado

Estou em casa. Estamos em casa.

Acordo em casa. Como em casa. Trabalho em casa. Descanso em casa. Adormeço em casa.

Sou uma sortuda. Somos uns sortudos que, apesar de tudo, de maiores e menores dificuldades, lá nos vamos conseguindo isolar (fisicamente) do mundo.

Mas o que me assusta, o que nos assusta, o que nos consome mais do que podemos sequer imaginar...é o "por tempo indeterminado". Faz parte do ser humano fazer planos, debaixo de uma ténue sensação de controlo (ainda que fugaz, ainda que irreal). Já lá diz o ditado..."O Homem faz planos e Deus ri-se". Estamos sem planos, e os que tínhamos já não os temos. E os que ainda temos não sabemos se os poderemos manter...

Espalham-se pelos meios de comunicação social dicas para fazer o melhor (e repito: mesmo o melhor, que parece preparar pessoas que estão em casa sem absolutamente nada que lhes encha as horas) do tempo livre. É louvável esta tentativa, o único problema é que não é ajustado à realidade da maioria das pessoas.

Estou em casa, e posso dizer com segurança que têm sido os dias com menos descanso de toda a minha vida...Eu trabalho de casa e arrisco-me a dizer que as entidades empregadoras não estão de todo receptivas ao que significa começar, de repente e de forma forçada, a trabalhar no mesmo local onde se tem de cuidar da família. Não há adaptação, não há margem para erro. Pelo contrário, deve haver um esforço inconsciente para fazer sempre mais, mais horas, com mais afinco, simplesmente para provar que estamos em casa, mas estamos a trabalhar, simplesmente para justificar o salário que vamos receber no final do mês.

 

Mas ainda assim...é o "tempo indetermindado" que me aterroriza...

Tanto tempo sem abraçar a família, sem rir e deitar conversa fora.

Tanto tempo...e não sabemos ao certo quanto...É tão difícil ter agora esperança, quanto o é ao percorrer um túnel escuro, sem saber a quantos quilómetros se verá a luz...

Não sabemos até quando temos de esperar. E como vamos nós ajustar o passo nesta maratona se não conseguimos saber onde estará a meta?

Ir à página que os pariu

Eh pá, vou aproveitar que me disseram recentemente que tenho um humor delicioso e vou dar numa de blogger, assim num rasgo de sapiência...ou de falta de paciência, sei lá.

Telas em branco são excelentes conselheiras, excelentes ouvintes, e umas amigalhaças do caraças para levarem com blasfémias, verdades e mentiras.

Estou zangada, mesmo zangada. Já não sei é com quem. Tenho cada vez menos paciência para mimimis. E vai que está uma gaja sossegada da vida sem fazer mal a ninguém e tem de levar com bocas porque alguns colegas são "obrigados" a trabalhar em feriados, e outros não. Leia-se: EU, para já, não. E nem é nada pessoal, e nem é por nada, e a culpa nem é minha, mas insistem em mandar bocas da treta. É que eu até nem perdi metade das minhas férias pelo mesmo motivo, a trabalhar mais do que qualquer um. E estou piurça da vida é comigo que não os mandei pelas pernas das mãezinhas deles acima.

Pró raio que os parta!

 

Voltando do lado de lá...

Voltei, não sabendo por quanto tempo, mais magra (ui inveja para que te quero), mais velha e mais cansada— ai a porra dos trinta, tão sinistros mas tão fabulosos...ah, e mais responsável, mais dona—de—casa pouquíssimo desesperada. Mais mulher. Menos pequenina. Desde o último post, mudei de funções, mudei de casa, voltei a estudar. E atirei—me num poço de novidades, de dúvidas constantes, de felicidade e expectativas. Sonho, toda eu sou sonho. E vou por aí...E vós, cachopas e catraios, como vão?

Um dia destes lembrei—me...

...bolas, ao tempo que não escrevo, aos séculos que não me vejo como um livro, aos anos que não vos leio, que não vos deixo ler—me. E foda—se que saudades (ainda autorizam o uso de palavrões na blogosfera ou vão censurar os ditos cujos logo que os publique?). Cansa um bocadinho só ter mudado de canto e secretária e de repente ter mudado completamente de espírito. O medo constante de errar, a vergonha de ser novata e de ter a ousadia de questionar sobre tudo. E porque é o céu azul, e como bebo um copo de água, e o que acontece se espirrar...e a impotência que a ignorância traz...céus! E o quanto eu me permito usar tudo isso como desculpa para trabalhar e rebolar para o outro lado, porque nada mais me pode ocupar. Sei que isto passa. Para já, pareço figurante no Walking Dead, só quero mimo e descanso. Só para não me sentir um pequeno calhau com olhos. Ja nem ao email consigo ir ver em paz, graças aos putos dos open spaces modernos. Mas pronto, para a frente é que é o caminho, e hei—de vir cá mais vezes, só para vos ler, a vós que nao conheço de lado nenhum, mas de quem sei tantos pormenores.

Coisas que a vida tem

Nestes dias, já comecei inúmeros posts, cada um com um tema diferente, que apaguei, e fechei a janela sem nada publicar uma e outra e outra vez. Sentia que devia escrever alguma coisa...isto de ter um blog e não publicar nada parecia-me errado. Não foi falta de inspiração, nem falta de coisas novas. Pelo contrário, em breve a minha vida sofrerá algumas mudanças em diferentes campos, coisas boas, posso afirmar, mas que me deixam, ainda assim, assustada. Sempre tive medo de não estar à altura de novos desafios, sempre comecei a fazer contas à vida e a pensar nos planos B, C e D caso o plano A fosse pelo cano abaixo. E agora ando assim: ansiosa, nervosa, na expectativa, sem saber muito bem o que pensar.

E pronto, é isso.

Só para dizer que ainda cá estou.

 

Mas o que é que foi agora?

Aquelas notificações constantes do Facebook dão-me cabo da marmita. Sim, provavelmente dá para configurar a coisa de forma a não receber nada disso, mas a verdade é que de vez em quando pode dar jeito (e se for algo importante/urgente? claro que o telemóvel existe para as urgências, mas ainda assim...). "Num-sei-quem mudou a foto de perfil. Num-sei-quem tem uma publicação nova. Num-sei-quem deu um espirro..." Aaaaaaaaahhhhhh....