Estou em casa. Estamos em casa.
Acordo em casa. Como em casa. Trabalho em casa. Descanso em casa. Adormeço em casa.
Sou uma sortuda. Somos uns sortudos que, apesar de tudo, de maiores e menores dificuldades, lá nos vamos conseguindo isolar (fisicamente) do mundo.
Mas o que me assusta, o que nos assusta, o que nos consome mais do que podemos sequer imaginar...é o "por tempo indeterminado". Faz parte do ser humano fazer planos, debaixo de uma ténue sensação de controlo (ainda que fugaz, ainda que irreal). Já lá diz o ditado..."O Homem faz planos e Deus ri-se". Estamos sem planos, e os que tínhamos já não os temos. E os que ainda temos não sabemos se os poderemos manter...
Espalham-se pelos meios de comunicação social dicas para fazer o melhor (e repito: mesmo o melhor, que parece preparar pessoas que estão em casa sem absolutamente nada que lhes encha as horas) do tempo livre. É louvável esta tentativa, o único problema é que não é ajustado à realidade da maioria das pessoas.
Estou em casa, e posso dizer com segurança que têm sido os dias com menos descanso de toda a minha vida...Eu trabalho de casa e arrisco-me a dizer que as entidades empregadoras não estão de todo receptivas ao que significa começar, de repente e de forma forçada, a trabalhar no mesmo local onde se tem de cuidar da família. Não há adaptação, não há margem para erro. Pelo contrário, deve haver um esforço inconsciente para fazer sempre mais, mais horas, com mais afinco, simplesmente para provar que estamos em casa, mas estamos a trabalhar, simplesmente para justificar o salário que vamos receber no final do mês.
Mas ainda assim...é o "tempo indetermindado" que me aterroriza...
Tanto tempo sem abraçar a família, sem rir e deitar conversa fora.
Tanto tempo...e não sabemos ao certo quanto...É tão difícil ter agora esperança, quanto o é ao percorrer um túnel escuro, sem saber a quantos quilómetros se verá a luz...
Não sabemos até quando temos de esperar. E como vamos nós ajustar o passo nesta maratona se não conseguimos saber onde estará a meta?